A categoria de Great Grand Masters: os fundadores estão para durar

Ao fim do terceiro dia de competição em Portimão, a categoria de Great Grand Masters não tem mãos a medir. O meio da semana marcou o final da fase do todos contra todos a uma volta (‘round robin’), a ser seguido pelas meias-finais e pela final. Nos primeiros dois dias do torneio, a Áustria e a Holanda comandaram a classificação, seguidas de perto pela Suécia. Antes, os dois líderes tinham medido forças, com a vitória a sorrir aos holandeses (10-8), ao passo que a Suécia só sofreu a primeira derrota quando defrontou os austríacos. Ainda ficava a faltar aos nórdicos jogar com a Holanda, mas olhando aos resultados actuais, a vitória parecia improvável.

Antes do EBUC2019, muitos dos jogadores desta categoria de Great Grand Masters tinham representado os seus países nos diversos escalões etários em que se divide a competição internacional, e também algumas das equipas de topo da Europa. Muitos apresentam-se neste torneio depois dos Mundiais de Selecções (em 2017) e de Clubes (em 2018). Ao ver-se os jogos, ressalta que os atletas não apenas estão muito confortáveis com os colegas de equipa, como também que formaram amizades bastante fortes com os jogadores das equipas adversárias.

Depois de vencer mais um jogo, o capitão holandês Jeroen Oort falou connosco sobre a experiência de jogar nesta categoria relativamente nova, dos Great Grand Masters. Disse ele: «É muito bom poder jogar na nossa idade, aos 55. Há dois anos, na categoria de Grand Masters, joguei contra tipos que eram 20 anos mais novos [do que eu], por isso acho óptimo termos agora uma categoria de Great Grand Masters tão firme».

A formação holandesa é composta principalmente por membros da Red Lights, uma equipa de Amesterdão que teve muito sucesso europeu nos anos 80 e 90. Nos últimos 15 a 20 anos, acrescenta Oort, a maior parte dos elementos desta equipa transitaram da relva para a areia. Assim, muitos elementos da Selecção têm um conhecimento profundo do jogo na praia e uns dos outros. A química que têm em campo, como resultado desta experiência partilhada, é inconfundível. No fim da nossa conversa, Oort fala da atmosfera imbatível na categoria de Great Grand Masters que é proporcionado pela comunidade do Ultimate.

Um sentimento que é partilhado pela selecção britânica. Depois de defrontar os holandeses, David Eastman falou da camaradagem vivida durante a partida: «Já todos jogamos há muito tempo, o maior torneio costumava ser o de Roterdão, chamava-se The Harbour, e muitos jogadores conhecem-se daí, por isso os nossos jogos vão sempre ser um pouco mais amigáveis». Ver este jogo foi um prazer. Apesar de diferença no marcador, o jogo entreteve graças a momentos como os actos de desportivismo. Os jogadores resolveram as possíveis faltas facilmente, riram-se e deram os prbs uns aos outros na linha lateral e até cantaram para a outra equipa ao fim. Os membros de ambas as equipas tiveram uma clara preocupação com os adversários; não estavam apenas a cumprir o espírito do jogo.

Outro aspecto especial desta categoria de Great Grand Masters (que também acontece nas categorias de Masters) é a presença de famílias inteiras a apoiar os jogadores no torneio. No encontro entre a Suécia e a Grã-Bretanha, falei com Julia Lawrence, esposa do jogador Timmy Lawrence, que estava de olho nos filhos. Perguntei-lhe qual a sensação de viver a prova em família. Estão a adorar estar em Portimão, contou. As crianças adoram vir ver o pai a jogar Ultimate e o espírito do jogo marca um excelente exemplo para eles, quando for altura de resolverem problemas nas suas próprias vidas. Por vezes, pode ser difícil manter os mais novos fora do campo, principalmente quando estão tão perto da linha lateral e querem entrar no campo a correr quando algo excitante acontece. Mas, no geral, é uma experiência maravilhosa para toda a família.

Se há algo em que esta categoria se destaque, além do espírito, é em mostrar de forma tão patente jogadores com mais de 50 e 60 anos que ainda conseguem correr na praia. Layouts, bloqueios em voo e passes de um endzone para a outra não são coisa rara nestas partidas. Ver jogar, e depois ouvir, jogadores como os das selecções holandesa e britânica serve bem para se perceber que o seu desportivismo vai garantir que esta categoria vai continuar a ser competitiva por muitos e muitos anos. Espero, para meu próprio bem, que também continue a ser cordial.

O capitão holandês, Jeroen Oort, vai em breve trepar o monte Quilimanjaro para angariar dinheiro para a afirmação das mulheres na Tanzânia. Se quiseres fazer uma doação à sua causa, podes usar este link: http://pif.one/joort

Maio 9th, 2019|