As mulheres à frente do EBUC

O Ultimate de Praia é um pouco diferente do de relva. Mesmo em torneios de topo, como os Europeus, jogar na praia proporciona um ambiente mais tranquilo, mais aberto e mais amigável — mesmo que, na hora de competir, todos dêem o máximo. No entanto, não é só o ambiente que é diferente. Os organizadores tentaram uma série de inovações, ao longo dos anos, para melhorar o modo como se joga, A organização dos Europeus de 2019 não é excepção… e desta vez o grupo está cheio de mulheres fortes!

A BULA e a WFDF sempre apoiaram as categorias femininas no Ultimate, e os holofotes viram-se todos para a Final feminina. As novas regras da categoria mista, com maior igualdade entre os géneros, é outra inovação do Ultimate de Praia. Estas evoluções depois transparecem fora de campo. Ao fim de vários anos de esforços da WFDF, há mais mulheres do que nunca a gerir torneios e a moldar o futuro da modalidade. Falámos com algumas das mulheres à frente do EBUC2019 para perceber os papéis que desempenham, como assumiram essas responsabilidades e que mudanças gostariam de ver no futuro.

Karina Woldt — directora de eventos e operações da WFDF
Trabalhou em todos os Campeonatos continentais e Mundiais desde 2014. Sendo mãe de três crianças pequenas, assumiu um papel muito importante para todos os desportos de disco, pois também além do Ultimate também está envolvida com todos os desportos de disco, incluindo Freestyle, Guts e Disc Golf. Começou a rers para o EBUC2019 em 2017:

“Desde que a WFDF abriu as candidaturas aos países interessados em ser anfitriões do Europeu de 2019 tenho trabalhado todas as semanas no Comité Organizador. Certifico-me de que o torneio cumpra os padrões da WFDF para competições de nível continental, assegurando a qualidade e o nível profissional a todos os níveis. A nossa prioridade é prestar um serviço de classe mundial aos jogadores, aos investidores, patrocinadores e país anfitrião, de modo a que o nosso desporto seja promovido e bem visto pelo mundo fora”.

Desde que começou a trabalhar com a WFDF, esta responsável tem notado que há cada vez mais mulheres a assumir papéis-chave em torneios:

“É óptimo ver tantas mulheres envolvidas neste evento — quatro em cinco membros do grupo de regras do torneio são mulheres! Há dois anos, a WFDF dedicou-se a encontrar mulheres que pudessem assumir esses lugares e nos próximos dois anos será claramente visível uma evolução no que toca ao envolvimento feminino”.

Para ela, esta tendência veio para ficar:

“Tenho a intenção de continuar a trabalhar com os países anfitriões dos principais eventos da WFDF para encontrar mulheres que assumam lugares importantes na equipa de cada prova. As mulheres parecem ter talentos naturais para a organização, para lidar com múltiplas tarefas, e muitas vezes mostram a sua qualidade na organização de eventos graças à sua atenção aos pormenores. Por vezes, basta um pequeno esforço para encontrar pessoas que podem ter sucesso em lugares antes ocupados por homens”.

Sofia C Pereira — directora do torneio
Além de jogar, a Sofia também tem organizado eventos de Ultimate de Praia desde 1995, e está ligada a esta edição desde o início. Dada a sua experiência no Ultimate de Praia, ajudou a redigir a candidatura e a construir a equipa de trabalho. Que sempre teve muito presente a ideia de manter um equilíbrio entre eles e elas:

“Preparar a candidatura e organizar o EBUC2019 tem sido uma excelente aprendizagem, graças a uma equipa muito unida, com homens e mulheres. Ao candidatarmo-nos, tínhamos a intenção de ter o maior equilíbrio possível entre os géneros na Comissão Organizadora da Prova; acabámos por ter mais mulheres do que homens”.

À medida que a data se aproxima, a directora mal pode esperar:

“Com o Europeu cada vez perto, sei que vai ser um prazer enorme ver a praia cheia de jogadores e de discos, reencontrar velhos amigos e acolher um torneio de excelência, com um fantástico staff, parceiros e representantes oficiais da WFDF”.

Também quer ver mais oportunidades a ser dadas a mulheres no udo, no futuro — principalmente nas categorias de Masters:

“Mais mulheres a jogar, em idades mais avançadas, é o que espero para o futuro”, diz. “Uma categorias de Great Grandmasters seria óptimo!”.

Filipa Bringel – Directora local do torneio
A Filipa tem sido uma parte essencial deste evento, desde o início. Atleta da equipa local, a UFA, esteve envolvida em vários eventos em Portugal, nos últimos anos. Como directora local da prova, tem palmilhado quilómetros para assegurar que todos têm onde ficar, onde comer e onde jogar.

“Acho que o mais importante”, diz, “é que, independentemente do género, tenhamos uma equipa organizada e trabalhadora, que esteja dedicada a proporcionar aos jogadores um torneio fantástico e bem organizado. Acredito muito que a igualdade de género passa por as pessoas cumprirem as suas tarefas e serem reconhecidas por isso, sem olhar se são homens ou mulheres”.

Como jogadora de Ultimate de Praia (não percam de vista a Selecção mista portuguesa), a Filipa gostaria de ver o número de jogadoras a aumentar, em Portugal:

“Gostava muito que houvesse cada vez mais e mais jogadoras, de modo a aumentar a competitividade e o nível do jogo, principalmente no nosso País”, acrescenta.

Ekatertina Barabanova — directora de Espírito do Jogo
Repetindo uma função que desempenhou nos Mundiais WBUC de 2017, em Royan, e nos Jogos Mundiais de 2017, em Wroclau, bem como outras provas continentais, a Kate faz parte da Comissão de Espírito do Jogo desde 2014 e também esteve envolvida na organização de torneios pelo mundo fora — da sua Rússia natal (é conhecida por muitos como a Kate Russa), aos EUA, passando pela Europa.

“Gostaria de ter mais casos reais de mulheres para mostrar às pessoas, tanto homens como mulheres, como as coisas poderiam ser”, diz. “Quanto mais falamos nisso, mais pessoas prestam atenção. Não estamos a falar de mulher que vemos ao acaso na TV, e que nunca sabemos se as suas histórias são raeis ou inventadas, mas a respeito de mulheres que conheçamos, ou que os meus amigos conheçam, que estejam mais próximas e sejam mais verdadeiras”.

“Gosto de ser exemplo”, acrescenta. “Um bom exemplo, que sirva de inspiração. E já me disseram que ou, para algumas pessoas”.

Kate handing out spirit prizes at WCBU2017. Thanks to Focus for the photo.

Corinne Tupling — directora de sustentabilidade
Também está envolvida nest europeu desde a primeira hora. Ajudou com o capítulo sobre a sustentabilidade da candidatura portuguesa ao EBUC, e trabalha hoje para que o evento aja com a máxima responsabilidade possível, a nível social e ambiental. Também joga Ultimate de Praia e faz parte da Comissão de Ultimate de Praia da WFDF. Antes de se mudar para Portugal, esteve envolvida na criação de uma equipa em El Salvador e na organização dos primeiros torneios de sempre, nesse país. Espera que, nos próximos anos, “o Ultimate de Praia continue a servir de plataforma para grandes exemplos de papéis femininos, em todos os aspectos deste desporto”.

Corinne playing in Portugal

Shiellah Quintos — responsável pelos voluntários internacionais e pelo grupo de regras do EBUC2019
Está ligada à gestão do Ultimate desde 2003, e na organização de torneios continentais e mundiais desde 2015, tendo começado em 2015, no Dubai. Está muito ligada à arbitragem numa série de aspectos — é uma observadora certificada desde 2007, árbitra da AUDL em Montreal desde 2013 e conselheira para jogos desde 2014, tendo recentemente trabalhado com o WUGC 2016 e o WUCC 2018.

“Ter tantas mulheres envolvidas nestes eventos faz a diferença, defende. “Creio que ter homens e mulheres a trabalhar na mesma equipa traz ainda mais sucesso aos eventos. Cada um com uma perspectiva própria, todos os com os mesmos objectivos, é algo que reforça os nossos pontos fortes e diminui os pontos fracos. Quando as mulheres encontram um exemplo digno de nota, sentem-se inspiradas a fazer o mesmo. Ver e trabalhar com outras mulheres inspira-me a dar o meu melhor”.

Carla Oliveira – directora de saúde e segurança
A Carla é a directora de saúde e segurança do EBUC2019 e está envolvida neste projecto desde 2018. Sendo uma das peças-chave da organização do torneio Lisbon MOW ao longo dos últimos 6 anos, traz muita experiência à equipa.

“Espero que ter tantas mulheres envolvidas na organização do torneio traga uma perspectiva única”, revela. “A comunidade do Ultimate, em Portugal, é pequena, e o número de jogadoras é reduzido, mas espero que possamos continuar a crescer em quantidade e qualidade nos próximos anos”.

E muitas mais…
Esta lista não é, de forma alguma, exaustiva, e há muitas outras mulheres que merecem ver o seu muito trabalho, ao longo dos anos, reconhecido. Por exemplo, a Adriana Valentim, da equipa local, a UFA, tem feito um trabalho magnífico com a Polícia Marítima e com os hostes locais. Também se deve fazer menção especial à Stephanie Huffman e às suas duas filhas, responsáveis pela alimentação do EBUC, que terão um papel muito importante. E não há que deixar de fora a Filipa Matta May, que estantea dar cartas nas redes sociais e mantem os disco do EBUC2019 no ar entre o Facebook, o Instagram e o Twitter. E, por fim, Karen Cabrera, president da comissão da WFDF para o Ultimate de Praia, que virá de Boracay para Portugal para tornar o evento ainda melhor!

Abril 30th, 2019|