O Ultimate de Praia em Portugal: passado, presente e um futuro brilhante

O Ultimate ainda é jovem, em Portugal. Este desporto foi introduzido no País por um número relativamente reduzido de pessoas, em 1995, e ainda não alcançou o nível de outros países europeus.

Portugal disputou a divisão mista do World Ultimate and Guts Championships de 2016, em Londres, a primeira participação portuguesa de sempre num torneio de relva, e acabou num respeitável 13º lugar, à frente de nações como a Nova Zelândia, a Suíça e a Dinamarca, que têm muito mais história nesta versão do desporto, com sete jogadores. Mas é na praia que o Ultimate português tem prosperado.

O primeiro Campeonato do Mundo de Ultimate de Praia (WCBU) decorreu em Portugal, em 2004. Os EUA ganharam, por pouco, as divisões Masculina e Feminina, com triunfos que se tornariam recorrentes, ao passo que a Alemanha ganhou a então denominada Divisão Mista vencendo a Grã-Bretanha na final. Os anfitriões disputaram duas categorias, acabando em 8º lugar na Masculina e em 14º (entre catorze) na Feminina.

Sete anos mais tarde, já seriam um nome em destaque no circuito de praia. Um 4º lugar na Divisão Mista do WCBU de 2011 mostrou-o bem ao resto do mundo, seguindo-se resultados semelhantes no Campeonato da Europa de Beach Ultimate (ECBU) em 2013 e no WCBU de 2015. No WCBU de Royan, há dois anos, desceram para 8º numa divisão altamente competitiva, mas competiram ao mais alto nível com nações reconhecidas pelo mundo fora como as mais fortes — vencendo a Grã-Bretanha e a Austrália e perdendo por poucos para o Canadá, para a Alemanha e para outro país dedicado ao Ultimate de praia, a Rússia.

É uma evolução enorme num período de tempo relativamente curto. Como o conseguiram, e o que conseguirão em seguida? Falei com algumas pessoas que podiam ajudar a entender o momento do Ultimate de Praia.

O início

Sofia Pereira está no desporto desde o início. Quando se mudou para Portugal, juntamente com Patrick van der Valk, uma referência da BULA, o amor pelo Ultimate de Praia veio na bagagem. “O Patrick e eu mudámo-nos para Portugal no Verão de 1995. Levámos logo o disco para a praia”, conta ela.

“Primeiro, não há assim tantos campos de relva na zona de Lisboa, e há praias que são realmente espectaculares! Depois, não são necessários tantos jogadores para jogar na areia. Por vezes éramos poucos, ao início. Por fim, mesmo que as pessoas se atrasem ou acabem por não vir, a praia não é nada mau sítio para se estar ou para fazer uns lançamentos, se não houver jogadores que cheguem sequer para jogar 3 contra 3”.

Só no final dos anos 90 se faria o primeiro torneio em Portugal, no Bar do Peixe, com cerca de 60 jogadores, quase todos vindos de fora. O crescimento, nos primeiros anos, foi lento, mas aos poucos começaram a ser realizados torneios indoor, em relva e na praia, e o jogo chegou a outras cidades — como Leiria e Palmela, ambas razoavelmente perto de Lisboa. ‘Hat tournaments’ mensais na praia do Meco, a cerca de 40 km a sul de Lisboa, ajudaram ao surgimento de jogadores locais e proporcionaram outro local para o desenvolvimento das suas capacidades na praia.

Em 2001, a primeira Selecção Portuguesa participou num torneio, em Espanha. Em 2004, o país foi anfitrião do WCBU. O Patrick, que já na altura estava à frente da BULA, a Beach Ultimate Lovers Association, como hoje, recorda-se bem da dificuldade em organizar a prova:

“A comunidade do Ultimate de Praia em Portugal foi essencial para o sucesso do primeiro Campeonato do Mundo, em 2004. O que muita gente não sabe é que, a dois meses do início da prova, um organizador de eventos profissional, que foi a razão pela qual tudo começou, abandonou a organização! Isto obrigou 30 jogadores, quase iniciantes, a dar as mãos e organizar, em conjunto, um evento internacional de grande dimensão que nunca tinha ocorrido.E fizeram um trabalho espectacular!”.

Daí, a comunidade continuou a crescer. Nesse mesmo ano decorreu, pela primeira vez, um Campeonato Nacional de Ultimate de Praia, com quatro equipas — duas de Lisboa e duas de Palmela. A prova continuou a crescer, e hoje conta com dez equipas de todo o País. No total, Portugal tem cerca de 150 jogadores, o que ainda torna os seus dois 4ºs lugares em competições internacionais ainda mais notáveis.

E agora?

José Pedro Amoroso é o actual presidente da entidade que gere os destinos deste desporto em Portugal. É a ele que cabe ajudar o Ultimate português a crescer e ampliar os sucessos dos últimos anos. Tem planos ambiciosos para o futuro — incluindo o desenvolvimento do desporto em escolas e universidades portuguesas.

A Associação Portuguesa da modalidade está a trabalhar com o Governo para que o Ultimate, juntamente com outros desportos, entre nos currículos escolares, e José explica que o lançamento da divisão universitária é uma prioridade essencial: “No ano passado, tivemos três equipas nos campeonatos universitários, e este ano esperamos quatro ou cinco. Estamos a tentar firmar um protocolo com a Federação do Desporto Universitário para continuar a crescer, e estamos a tentar marcar uma reunião com a Secretaria de Estado e outras entidades importantes para lançar um folheto a explicar o que é o Ultimate”.

Com cada vez mais jovens a praticar o desporto, equipas de alta qualidade, jogadores experientes prontos a inspirar os mais novos e apoios das Universidades e do Governo, o desenvolvimento que José Amoroso procura pode chegar mãos cedo, e mais depressa do que no passado.

O Ultimate pode ainda ser jovem, em Portugal, mas a crescer à velocidade com que chegaram ao nível actual, e com os seus planos para envolver e fazer crescer os mais jovens, podemos apostar que Portugal vai lutar mais por medalhas no futuro — na praia e fora dela.

Março 1st, 2019|